Quando falamos de salários
(publicado no Expresso, caderno de Economia)
António Borges criou uma tempestade política ao afirmar que “a diminuição de salários não é uma política, é uma urgência” — embora tenha acrescentado que “não pode ser de maneira nenhuma uma perspetiva de futuro”. É claro que Borges peca por duas razões. A primeira é por não aplicar a si próprio o que propõe para os outros, acumulando salários públicos e privados. E depois por não explicitar a que salários e sectores se refere.
Uma empresa de comércio de mobiliário e artigos de iluminação pede arquiteto, com mestrado, para trabalhar a tempo inteiro por €500. Uma empresa de estudos de mercado pretende contratar um licenciado para fazer clipping de imprensa, pagando €485. Uma empresa pretende dois dentistas, a tempo completo, a ganhar €650. Outra pretende um engenheiro mecânico, que fale inglês, francês e espanhol, oferecendo €700. Uma multinacional subcontrata através de uma empresa de recursos humanos e esta paga €780 a engenheiros informáticos e eletrotécnicos. É destes salários que estamos a falar, dr. Borges? São estes salários que devem ser reduzidos? Então esteja descansado. Dentro de um ano não terá no país quem os aceite. Ou por não ter as qualificações necessárias. Ou porque os que as tiverem não estarão a trabalhar em Portugal. É com estas bases que iremos construir o Portugal futuro. Promete
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