“Reencontro Histórico Soares Carlucci”
Otelo Saraiva de Carvalho, 29 Setembro
“Bateram casualmente os meus olhos na primeira página do Publico de dia 23, e apressei-me a folheá-lo para, lendo a reportagem produzida por Teresa de Sousa sobre o “reencontro histórico” protagonizado por Soares e Carlucci, confirmar algumas das suspeitas que mantenho sobre o chamado “Verão quente de 75” e o papel por ambos desempenhado durante aquele “ano de brasa” do período revolucionário (“o sempre saudoso Prec”, como sempre dizia o nosso querido Zeca Afonso) que os portugueses viveram após o 25 de Abril 74.
Para lá de algumas confirmações obtidas, umas claras, outras lidas nas entrelinhas, a reforçarem a tese que publicamente tenho expendido sobre quem, o porquê e o como do fim da “revolução socialista” acontecido em 25 de Novembro 75, conduziu-me a leitura da reportagem à necessidade de remeter esta carta com vista à reposição da verdade, já que, parafraseando Soares, que aprecia os americanos porque eles “gostam que lhes digam a verdade”, tenho a impressão muito nítida de que os portugueses também disso gostam, motivo que me leva a apreciá-los muito e a não desejar, também por isso, que eles sejam enganados por falsas declarações.
Assim, contrariando as fantasiosas reminiscências dos dois gerontes produzidas perante a jornalista, afirmo categoricamente:
1 – Nunca conheci pessoalmente Frank Carlucci
2 – Portanto, nunca almocei com Frank Carlucci
3 – Nunca pedi a Frank Carlucci a sua morada em Lisboa e nunca mandei “alguns soldados” para fazer a sua segurança a seu pedido.
4 – A única vez em que falei com Frank Carlucci foi em 11 de Março de 1975, quando fez uma chamada telefónica para o Copcon, que eu comandava, no rescaldo dos acontecimentos, para me perguntar se era verdade eu ter afirmado a uma estação de rádio de Lisboa ser minha convicção que o novo embaixador americano em Portugal era um homem da CIA e que alguma coisa teria que ver com a tentativa de golpe militar que tinha acabado de se verificar e que fora rapidamente jugulado por forças militares sob o comando do Copcon. Afirmações que não só ratifiquei como ainda acrescentei que, pessoalmente, o considerava persona non grata em Portugal e que, se fosse primeiro ministro, lhe daria um prazo de 24 horas para ele abandonar o meu país.
Considerações que me pareceram, então, francamente agastá-lo e que a mim me deram a satisfação do desabafo.
Fui acompanhando, depois do 25 de Novembro de 1975, a continuidade do seu sucesso como embaixador dos EUA, o seu regresso à pátria para assumir, em promoção pelo trabalho realizado em Portugal, as funções elevadas de number two da CIA, o retorno a Lisboa para instalação e presidência da EuroAmer e o “reencontro” com as amizades geradas nas angústias do PREC. “Enfin, les beaux esprits se rencontrent”(...)
Ps: ,,,e mais da carta não transcreveu o jornal Público. Que mais diria Otelo, e quem mais, tantos anos depois, tem medo de ser desmascarado?
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