“variações infímas podem alterar irreversivelmente o padrão dos acontecimentos” Uma simples mistificação dos economistas americanos, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias, cientificamente dada a conhecer á Humanidade por Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos.

quarta-feira, setembro 28, 2005

A DESVALORIZAÇÃO DO VALOR

Robert Kurz

O capitalismo não é outra coisa senão a incessante "valorização do valor", aparecendo como um fim-em-si-mesmo de transformar dinheiro em mais dinheiro. Onde está o valor? Segundo Marx, no "trabalho abstracto" representado nas mercadorias, na massa de "nervo, músculo e cérebro" gastos no processo de produção. Mas apenas é válido o trabalho que corresponde ao standard de produtividade. O qual é medido pelo mercado e pela "muda coerção da concorrência" (Marx) nele dominante. No mercado mundial, à falta de outra medida, impõe-se o nível mais alto de produtividade dos países capitalistas centrais. Os países periféricos só podem manter a sua força de trabalho através de brutais vendas ao desbarato, quando muito. Sob estas condições, o trabalho de milhares de trabalhadores chineses mal pagos não é maior como produto válido do valor que o de um trabalhador ocidental high tech. Pelo que não passa de uma ilusão de óptica pensar que o emprego massivo de trabalho barato na China, na Índia, etc., haveria de puxar para cima o produto global de valor na mesma escala.

Na terceira revolução industrial o standard da produtividade foi levantado cada vez mais alto. Porém, quanto mais alta a produtividade, tanto menor a quantidade válida de trabalho representada por cada mercadoria individual e portanto menor o valor desta. Aqui se manifesta a auto contradição lógica do capitalismo: por um lado a sua finalidade continua a ser a infindável acumulação de valor, por outro lado ele próprio socava progressivamente a substância do valor. Historicamente esta contradição foi compensada pela expansão capitalista: quanto menor o valor de cada mercadoria, tanto mais mercadorias tinham que ser produzidas e vendidas. Mas aqui está estabelecido um limite interno lógico. A qualquer momento deixa de valer a pena entulhar o mundo com mercadorias. Juntamente com a substância do valor cai também o poder de compra, que é apenas um momento daquela. Na terceira revolução industrial a equação já não dá certo: ao desemprego global em massa corresponde a desvalorização interna das mercadorias. Com uma dose de substância do valor tornada homeopática os produtos já são autenticamente apenas bens naturais; pelo que já só artificialmente podem ser forçados à forma do preço em dinheiro.

O dinheiro, porém, como "equivalente geral" não é senão a mercadoria escolhida para rei. Em última instância, a função do dinheiro como "meio de conservação do valor" exige uma substância de valor própria. Historicamente foram os metais nobres os promovidos a esta função, porque representavam "trabalho abstracto" de modo particularmente condensado. Mas apesar da acelerada circulação do dinheiro, já nem todo o ouro do mundo poderia representar a crescente massa de mercadorias. No século XX o dinheiro foi desacoplado da substância do valor dos metais nobres; a última ligação foi rompida em 1973, quando se cortou a ligação ao ouro do dinheiro mundial dólar. A garantia apenas jurídico-estatal do dinheiro ficou porém frágil. Daí as crescentes inflações e crises do dinheiro e da moeda. Atrás do dólar está hoje apenas a máquina militar dos USA; atrás do euro não há nada; em todo o caso a maioria das outras moedas já caíu. A ameaça de uma grande crise monetária mundial não vem da concorrência entre o dólar e o euro, mas da dessubstancialização do dinheiro em geral. À desvalorização da força de trabalho corresponde a desvalorização das mercadorias e esta leva à desvalorização do dinheiro. Com isto é a relação social fetichista da modernidade em geral que passa à disponibilidade.

Original: DIE ENTWERTUNG DES WERTS em Neues Deutschland 10.06.2005

 
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