“variações infímas podem alterar irreversivelmente o padrão dos acontecimentos” Uma simples mistificação dos economistas americanos, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias, cientificamente dada a conhecer á Humanidade por Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos.

domingo, outubro 23, 2005

VPV e o Orçamento de Estado para 2006


Excepto na extrema-esquerda, não há economista em Portugal que não ache o Orçamento de Estado uma perfeição. A ideia parece ser esta: o que é necessário é bom. O Orçamento á necessário: logo é bom. O que se pode aplicar a uma perna: se é necessário cortar uma perna, cortar uma perna é bom. Mas como certa gente se recusa a perceber a evidência, os doutores da economia, como os doutores da medicina, acrescentam pressurosamente que a felicidade da vítima nada sofrerá com o Orçamento ou sem a perna. Afinal, explicam eles, não se trata de viver pior. Quanto muito ficams na mesma (ou, pelo menos quase a mesma) e, como já víviamos bem, não devemos fazer um drama por não viver melhor. Basta de exageros. Até porque, segundo Silva Lopes, só os previligiados vão sofrer (se alguem vai sofrer) e os previlégios não merecem contemplações. Por exemplo, a aristocracia francesa tambem perdeu os dela durante a revolução. Os funcioários públicos não passam da versão moderna do duque de Biron ou da princesa de Lamballe e o Governo, na sua benevolência, nem seuer pensa em os guilhotinar.
Ainda por cima, o sr. Ministro das Finanças não quis, jura ele, que o Orçamento fosse o big-bang (?). De maneira nenhuma, ele prefere não “ir à bruta”. Prefere mondar a despesa pouco a pouco, com suavidade. Monda, claro, primeiro nos mais fracos: nas pensões, no subsidio de desemprego, nas “despesas com pessoal”. Mas tambem em tudo o resto e com uma significativa racionalidade. Os grandes “gastadores”, como a Saúde e a Educação têm aumentos ridiculos (0,9 por cento e 0,2 por cento), que de facto escondem uma preda efectiva. E, para disfarçar, a Cultura e a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior sobem um bocadinho de um patamar baixissimo. Por outras palavras, começou a erosão que vai levar ao fim do Estado-Providência. Com cuidado, com a desculpa do imperativo económico e com a mentira de que o bom tempo voltará. Não voltará. E para a operação não causar distúrbios, convém anestesiar o doente.
A consequência politica deste extraordinário exercicio de hipocrisia ainda está para se ver. Até hoje os portugueses votaram contra. Contra Guterres, Santana e, ultimamente, Sócrates. Suponho que tencionam agora votar em Cavaco contra a realidade e contra o mundo. Para mal de Cavaco, o mundo e a realidade lá por isso não desaparecem.

 
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