"A Morte de Colombo

Considerasse a douta Academia Sueca o ensaio como arte maior da Literatura, e Eduardo Lourenço teria sido o nosso primeiro Nobel. Assim não foi. Nem nunca o será. Daqui a 30/40 anos, porém, quando o Portugal que houver se der conta do espantoso legado de Lourenço, o descobrirá então. Demasiado tarde para ele e sobretudo para esse Portugal futuro, herdeiro de um Portugal atávico, sempre atrasado nos quotidianos da vida e nas obras da vida e nas obras da História. É isto, sobre Lourenço, um panegírico? Não, nem ele disso precisa. O que isto é, ou visa ser, é uma chamada de atenção para o seu livro mais recente. Sobre a morte de Colombo ( o da descoberta da América, esclareça-se). Dir-se-ia que, por uma vez, Lourenço se afastara de Portugal para se ir numa navegação de longo curso. Mas não: pensando Colombo, a América (ou a parte dela chamada Latina) e o Brasil, o que, de facto, Lourenço pensa é Portugal e essa Europa a que (embora num quarto com vista para o saguão) agora, de jure, pertencemos.
O livro (mais uma vez) é um conjunto de textos que abarcam mais de quatro décadas de reflexão. Mas, a cada passo, seja qual for a data do artigo, nos deparamos com a intemporalidade de um pensamento arguto. Será que a Europa descobriu a América? Será que Portugal descobriu o Brasil? “Quem descobre quem?” – interroga Lourenço, ignorando as baboseiras mediáticas habituais sobre a matéria, para, logo após, responder que essa descoberta nos tornou “outros”. Pelo que, hoje – diz – nós os Europeus “somos todos índios a título póstumo”. Ponto de partida de um livro com múltiplas chegadas. Num percurso aliciante.
Rodrigues da Silva, JL, sobre “A Morte de Colombo” de Eduardo Lourenço, Edit. Gradiva.
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