Discurso de Despedida
Discurso proferido pelo Presidente Fidel Alessandro Castro Ruz, na cerimónia de despedida de Sua Santidade o Papa João Paulo II, no aeroporto de Havana em 25 de Janeiro de 1998:
Santidade:
Cremos que demos um bom exemplo ao Mundo: o Sua Excelência,visitando o país a que alguns insistem em chamar o “último bastião do Comunismo”; e Nós, recebendo o Chefe religioso a quem quiseram atribuir a responsabilidade de ter destruído o Socialismo na Europa. Não faltam os que pressagiam acontecimentos apocalípticos.Alguns inclusivamente o sonham.
Seria cruelmente injusto qua a sua viagem pastoral ficasse associada á mesquinha esperança de destruir os nobres objectivos e a independência de um pequeno país bloqueado e submetido a uma verdadeira guerra económica desde há 40 anos.
Cuba, Santidade, enfrenta hoje a mais poderosa potência da História!, como um novo David, mil vezes mais pequeno, que com a mesma vontade dos tempos bíblicos, luta para sobreviver contra o gigantesco Golias da era nuclear, que trata de impedir o nosso desenvolvimento e nos quer fazer render pelas doenças e pela fome.Se não se tivesse escrito então aquela história, haveria que a escrever hoje!. Não se pode passar em branco por cima deste crime monstruoso que não admite desculpas.
Santidade:
Quantas vezes escuto ou leio as calúnias contra a minha Pátria e o meu Povo, urdidas por aqueles que não adoram outro Deus que não seja o Ouro!, recordo sempre os cristãos da antiga Roma, tão atrozmente caluniados, como já o expressei no dia da sua chegada, e que a culúnia tem sido muitas vezes na Historia a grande justificação dos piores crimes contra os Povos. Recordo tambem os Judeus exterminados pelos Nazis, e os quatro milhões de vietnamitas que morreram debaixo do napalm, das armas químicas e dos explosivos. Ser cristão, ser judeu, ou ser comunista não devia ser razão para que exista o direito que alguem invoque para que possam ser exterminados.
Milhares de jornalistas transmitiram a milhões de pessoas no mundo cada detalhe da sua visita e cada palavra pronunciada. Uma infinidade de nacionais e estrangeiros foram entrevistados em todo o país. As nossa cadeias nacionais de televisão transmitiram ao vivo e em directo, todas as missas, homilias e discursos. Nunca, talvez, tantas opiniões e noticias sobre uma nação tão pequena puderam ser escutadas, em tão breve espaço de tempo, por tantas pesoas, no nosso planeta.
Cuba não conhece o medo!; despreza a mentira!; escuta com respeito; crê nas suas ideias; defende inamivivel os seus princípios e não tem nada que ocultar ao mundo.
Comove-me o esforço que Sua Santidade realiza por um mundo mais justo. Os Estados desaparecerão; os povos chegarão a constituir uma só família humana. Se a globalização da solidariedade que Sua Excelência proclama se estender por toda a Terra e os abundantes bens que o homem pode produzir com o seu talento e com o seu trabalho se possam repartir equitativamente por todos os seres humanos que hoje habitam o planeta, poderia realmente criar-se um mundo pra eles, livre de Fome e de Pobreza; sem opressão nem exploração; sem humilhações nem desprezos; sem injustiças nem desigualdades, onde viver com plena dignidade moral e material, em verdadeira Liberdade, esse sim! Seria um mundo mais justo! As suas ideias sobre evangelização e ecumenismo não estariam em contradição com ele.
Pela honra da sua visita, por todas as suas expressões de afecto aos cubanos, por todas as suas palavras, até áquelas com as quais possamos porventura estar em desacordo, em nome de todo o povo de Cuba,Santidade, lhe dou as nossas graças.
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