“variações infímas podem alterar irreversivelmente o padrão dos acontecimentos” Uma simples mistificação dos economistas americanos, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias, cientificamente dada a conhecer á Humanidade por Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos.

quinta-feira, junho 08, 2006

É só para lembrar que a economia é uma ciência social

De há uns anos a esta parte, está em curso uma preocupante desunião entre os economistas de etiqueta, que laboram com os considerados assuntos sérios, como o comportamento das taxas de juro e de câmbios, a produtividade do sistema, a maximização dos rendimentos e outros afins, e os economistas sociais, cujas preocupações se centram, por exemplo, nos acontecimentos sociais estigmatizantes e na publicitação dos verdadeiros dramas que afectam crianças, idosos, pobres e excluidos.
Os primeiros localizam a atenção no Produto Interno Bruto, a preços de mercado e a custo dos factores, o complicado PIB, enquanto os outros correm a tentar disponibilizar “eosina” aos sacrificados pela queda do dito.
Cremos, porém, que o conjunto da sociedade só terá a beneficiar com a edificação de uma ponte entre a frieza prática de uns e a quase ingenuidade sonhadora dos outros.
Contudo, enquanto este entendimento tarda em se iniciar, iremos assistindo ao alastrar de posições expendidas por pessoas que parecem revelar um marcado indice de inconsciência e, até, de desconhecimento do verdadeiro tamanho do drama que quotidianamente se amplia, virando as costas ao trágico crescimento do desemprego, às complificaçoes no rumo dos jovens, à fome e à miseria, aos indicadores de crescimento da corrupção politica e empresarial, ao expandir da criminalidade e ao triste velório do valores comummente aceites como bons.
Justicarão as respectivas atitudes na convicção subjectiva de que, quando for afingida a estabilidade macroeconomica, gerar-se-á automaticamente espaço para empresas adicionais e para o acrescimo de investimento e melhores remunerações que, por seu turno, serão a genese, só por si, dos meios para provisionar as necessidades residuais, entenda-se, o social.
Mas mais preocupante neste domínio da insensibilidade, são as ideias liberalistas (que, como é óbvio, nada têm a ver com liberais que nos pretendem encarreirar para um terrififico extremismo que toma um corpo em conceitos pre-cozinhados, como: o denotar da violência que incomoda, assusta e condiciona o dia-a-dia das nossas vidas tem origem em grupos de gente má e o que será mesmo necessario é construir mais calabouços e diminuir a idade para imputablidade de crimes, criando, até, tribunais especificos para julgar e condenar as crianças: ou que é um tolo paternalismo ajudar os milhoes de marginalizados, directos e indirectos, pela sociedade, já que a miséria é realmente triste, todavia, inevitável.
Nós pensamos que o problema é muito mais profundo. Tudo leva a crer que a actual concepção do mundo começa a dar indicios de enormes debilidades e que, se nada for feito, tem, no amâgo, o germen da própria ruina social.
É que a nação e os conceitos em torno dela estão a ser degradados pelas poderosas multinacionais do poder, que invadem os mass media e os caminhos com banalidades comerciais, pondo no lugar dos valores da moral e da ética o lema “tudo por dinheiro”, desagregando a familia e cooperando com alguma proliferação da corrupção e de alguns tipos de criminalidade, causadoras de uma envolvente do tipo “a selva é o limite”, propensamente desagregadora.
Neste quadro, o estribo daqueles valores – o mercado e só o mercado – está a virar-se contra os autores e esmaga o que encontra no seu rumo, no que se incluirão, a seu tempo, os próprios criadores. Hoje, de quando em vez, já se ouvem vozes de pessoas conhecidas contra o facto de a economia estar nas mãos de gente que apenas pensa irresponsavelmente em dinheiro. E, neste ponto, parece ser lícito perguntar: “Mas, então, não era e não é esta a linha dos que defendem, com algum cinismo, diga-se de passagem, que o bem-estar geral resulta do somatório dos comportamentos sócio-económicos egoistas de cada um?”
As hiper-empresas que nasceram ultrapassaram em muito as dimensões razoáveis para uma qualquer unidade micro-económica de produção e auto-assumiram a função de construtoras do sistema macro-social, com o desastrado resultado que está perante os olhos de todos nós. Que não restem duvidas sobre o facto de defendermos que a epresa, privada, pública, mutualista, cooperativa ou de qualquer outro tipo é o meio por excelência de se organizar tanto o processo produtivo como o mercado e, sendo este um dos reguladores da economia, deve caber no nosso universo de valores. Mas, se não lutarmos com todas as nossas forças contra a eminente tentação de ser criada uma sociedade de mercado, poderá ser catastrófico. Não se pense que apenas os pobres serão atingidos pela forma como a gestão do social está a ser conceptualizada. Todo o sistema produtivo ficará em causa. Sistema produz, quase sempre bem, mas não sabe ou não quer saber distribuir com mais equidade. Falta-lhe uma adequada dose do mais elementar bom senso sócio-económico.
A actividade económica tem de ser um meio; muito importante, é certo; imprescindível, mesmo; mas apenas um meio. O fim é o bem estar social. É que a economia é uma ciência social lembram-se?

(Leitor em carta ao jornal Publico)

 
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