“variações infímas podem alterar irreversivelmente o padrão dos acontecimentos” Uma simples mistificação dos economistas americanos, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias, cientificamente dada a conhecer á Humanidade por Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Joaquim Letria - coisas do Pénis

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Florida - o "Voto" electrónico

o tribunal é quem mais ordena








Carta publicada na imprensa diária, por Maria Barreiro, de Lisboa - onde é bem visivel o efeito macho-latino PSL que leva, no final, a leitora a branquear toda uma série de falcatruas perpetradas na gestão camarária danosa de PSL/Carmona nos últimos cinco anos. (Epul, terrenos do Benfica, Parque Mayer, terrenos da Feira Popular, Urbanização vale de Santo António, Convento dos Inglesinhos, Urbanização da Infante Santo, etc, etc.)

Carmona preside a Lisboa há dois anos e meio

“Na televisão portuguesa tem-se falado muito sobre o anos de mandato de Carmona Rodrigues à frente do destino de Lisboa. Na verdade, o professor (porque é doutor assim, em extenso) refere-se à dívida do passado, à herança pesada que Carmona herdou empurrando para Santana Lopes uma gestão promíscua dos dinheiros dos contribuintes.
Esquecem-se os jornalistas, ajudando também o público que os ouve a esquecer, e parece que o próprio presidente e a sua equipa também se esquecem, que fizeram parte do executivo de Santana Lopes.
Carmona Rodrigues foi vice-presidente de Santana Lopes e aquando da saíada deste último para o Governo tomou o seu lugar e, pelos vistos, ganhou-lhe o gosto, antecipando a sua candidatura. Ganhou porque se afirmou como o oposto de Santana, mas era o seu vice-presidente.
Assim, fico com uma dúvida: ou andava de olhos fechados a ver tudo o que se decidia sem participar – o que não me parece provável, já que se sentava ao seu lado nas reuniões de câmara, anuindo com as decisões – ou tem memória curta. Mais: dos seus colegas actuais no executivo, fizeram parte no mandato anterior António Proa, Pedro Feist, a própria Gabriela Seara, então a sua chefe de gabinete, Sérgio Lipari, sempre ao lado de Helena Lopes da Costa, etc, etc.
É fácil dizer que se está a começar. Que se está no primeiro anos de mandato, mas esse não é o caso que se verifica com Carmona Rodrigues. Carmona estava lá. Esteve nos últimos quase cinco anos. Está desde Junho de 2004 como presidente, ou seja há dois anos e meio.
Se não tem a coragem de desenvolver projectos, ideias ou acções, assuma. Não empurre o desastre da sua gestão para Pedro Santana Lopes. Esse, noutros dois anos e meio, chamou jovens a Lisboa, deu dignidade à cidade, fez piscinas e apostou numa área inédita, conseguindo que os privados lhe seguissem o exemplo: a reabilitação urbana, de que desde o seu tempo se começou a ouvir falar”

domingo, outubro 22, 2006

mas faltava cá também a depressão dos próprios governantes:

"Só se pensa em trazer dinheiro de Bruxelas, mas ninguém se preocupa em discutir como distribui-lo e como avaliar a sua aplicação"
Jaime Silva, ministro da Agricultura, no "Expesso"

sábado, outubro 14, 2006

México Fracturado

Ignacio Ramonet

Un fraude masivo e indiscutible. José Manuel Barroso, presidente de la Comisión Europea lo ha admitido. Los veinticinco ministros de asuntos extranjeros de la Unión Europea han expresado su ³grave preocupación². Es importante que nosotros transmitamos de la manera más clara posible la inquietud de la Unión Europea y la de todos los Estados miembros sobre el resultado de la elección presidencial, ha declarado el ministro neerlandés de asuntos extranjeros.
Reporteros sin Fronteras recuerda que ³esta elección interviene después de cuatro años de una degradación continua y sin precedente en la prensa en ese país².
En Washington, personalidades como Colin Powell, Henry Kissinger y Zbigniew Brzezinski han afirmado que Estados Unidos no puede reconocer los resultados oficiales. El National Democratic Institute (NDI), presidido por Madeleine Albright, antigua secretaria de Estado; la Freedom House, dirigida por James Woolsley, antiguo patrón de la CIA; el American Enterprise Institute,
impulsado por el expresidente Gerald Ford; o incluso el Open Society Institute, dirigido por George Soros, han denunciado las ³manipulaciones masivas² y reclaman ³sanciones económicas².
El senador Richard Lugar, presidente de la comisión de asuntos extranjeros del Senado y enviado del presidente George W. Bush, no ha dudado en hablar abiertamente, él también, de ³fraudes²: ³es claro que ha habido un programa vasto y concertado de fraudes el día de la elección, sea bajo la dirección de las autoridades, o con su complicidad.² ¿Se frotan ustedes los ojos? ¿Se preguntan cómo tales declaraciones a propósito de la reciente elección presidencial en México han podido escapárseles? Tienen ustedes razón de estar perplejos. Ninguna de las
personalidades o instituciones citadas anteriormente ha denunciado lo que acaba de pasar en México. Todos los comentarios referidos ¬auténticos-, conciernen a la elección presidencial del 23 de noviembre de 2004... en Ucrania.
La ³comunidad internacional² y las habituales ³organizaciones de defensa de las libertades², que se han conocido tan activas en Servia, en Georgia, en Ucrania y aún recientemente en Bielorrusia, permanecen por así decirlo mudas frente al ³golpe de Estado electoral² que se comete bajo nuestros ojos en México. Puede uno imaginarse el clamor planetario si, en revancha, esta misma elección se hubiera desarrollado, por ejemplo, en Venezuela y si el vencedor ¬ por una diferencia de apenas 0.56% de los votos ¬ hubiera sido... el presidente Hugo Chávez.
El escrutinio mexicano del 2 de julio oponía a dos candidatos principales: Felipe Calderón, del Partido Acción Nacional (PAN, derecha católica en el poder), declarado vencedor (provisional) del escrutinio por el Instituto Federal Electoral (IFE), y Andrés Manuel López Obrador, del Partido de la Revolución Democrática (PRD, izquierda moderada). Mucho antes del inicio de la campaña, era claro para el presidente Vicente Fox (PAN) y las autoridades en el poder que López Obrador con su programa de lucha contra la pobreza era el candidato a vencer por todos los medios.
Desde 2004, una maniobra, a base de bandas video-clandestinas adquiridas desde el poder, complacientemente difundidas por las estaciones Televisa y TV Azteca, intentó en vano desacreditar a López Obrador. El año siguiente, bajo el pretexto artificial de no respetar las normas legales de construcción de una vía de acceso a un hospital, fue condenado, desaforado y cancelado su derecho a presentarse a las elecciones. Masivas manifestaciones de apoyo acabaron por obligar a las autoridades a restablecerle sus derechos.
Después, la campaña demoledora se continuó y alcanzó un grado delirante en el curso de la
campaña electoral. Mientras tanto, un fuerte viento de pánico sopla sobre las oligarquías latino-americanas (y sobre la administración de Estados Unidos), desde que la izquierda lo ha llevado (casi) por todos lados: en Venezuela, Brasil, Uruguay, Argentina, Chile, Bolivia... y que las
nuevas alianzas no han excluido más a Cuba.
En tal contexto, la victoria de López Obrador, tendría consecuencias geopolíticas muy importantes, de las cuales no quieren saber a ningún precio ni el empresariado ni los medios masivos mexicanos, ni Washington, quienes están dispuestos a sacrificar la democracia. Pero López Obrador y el pueblo mexicano no han dicho su última palabra.

Le Monde Diplomatique, Agosto/2006

sexta-feira, outubro 13, 2006

um tiro num barco de 1 cano? - ao lado,,,

Três perguntas sobre o editorial de 14 de Maio do jornal da Sonae

“Disse o Presidente do Irão, na carta que escreveu a Bush, alguma mentira? Defendeu algum valor, algum pensamento contrário à chamada moral judaico cristã? Finalmente, contradiz o editorial, racionalmente, algum dos ditos da referida carta?
Permita-me a resposta: limita-se José Manuel Fernandes (J.M.F) a atirar para o texto os lugares comuns anti Ocidente “anti-Ocidente”, “anti-América”. Recordo-lhe que a referida argumentação “anti-qualquer coisa” tem exactamente o mesmo valor que a sua invocação na defesa das ideias. A carta não refere nenhum facto que seja mentira, limita-se a expor as contradições do mundo ocidental, que apregoa principios e valores, justificativos de uma superioridade moral sobre as restantes civilizações, e depois pratica exactamente o contrário, sobretudo se for sobre uns individuoas “escurinhos”, que têm “valores medievais”. Diga-me por favor se vê realmente grande diferença entre Bush e Saddam? Ambos mentiram descaradamente; invadiram paises à revelia das Nações Unidas; prenderam, prendem e matam arbitráriamente opositores sem lhes darem a minima garantia juridica; torturam; bombardeiam aldeias sem qualquer respeito pela vida de crianças. Qual a diferença? É só porque Bush reclama a plenos pulmões, suportado por uma gigantesca máquina de propaganda, que é “o bem”? O “bem” é a igualdade, e pela diferença com que o mundo dito judaico-cristão trata os outros é muito fácil ver onde está o mal.
Não descortinará JMF semelhanças entre a atitude actual do Ocidente relativamente aos árabes e o espirito existente na época da Segunda Guerra Mundial na Alemanha e na Europa relativamente aos judeus? Não haverá semelhança entre as invasões americanas, invocando razões de segurança, e as invasões da Alemanha aos seus vizinhos pelas mesmissimas razões.
Sobre a Alemanha nazi diz-se: “Levaram um individuo de outra cidade, não te preocupaste; levaram um da tua rua, defendeste que era justo; segue-se um do teu prédio, alegaste que o sujeito tinha atitudes suspeitas; depois foste tu”. Recordo a JMF que foi com argumentos semelhantes aos que a Administração americana utiliza relativamente aos árabes que os índios foram todos chacinados; e que Bush nos seus discursos não diz “cidadãos do ocidente”, diz “americanos”. Não será de tentar pôr um travão nisto, antes que os nossos netos ou filhos sejam tratados como agora o são os árabes?”

César Neves, Lisboa.

domingo, outubro 08, 2006

"it runs in the family", que é como quem diz: "filho de peixe sabe nadar"


Desde os ataques de 11 de Setembro que um numero cada vez maior de meios de comunicação, desde os mais tradicionais aos ditos "alternativos", moveram a sua atenção para as ligações da familia Bush e a sua longa história ligada ao financiamento e fornecimento de armas aos inimigos da América nos meses e anos que antecederam periodos de guerra. Entidades como o Wall Street Journal e a ABC News investigaram os lucros da familia Bush, obtidos a partir da criação e financiamento dos mais diversos inimigos.

Em 1992, Webster G. Tarpley e Anton Chaitkin, depois de uma investigação meticulosa que incluiu os arquivos governamentais da época apresentaram em livro alguns factos sobre a familia Bush.
O avô de George Bush, Prescott Bush, foi Director-Geral do banco de investimentos Brown Brothers, da década de 20 até meados dos anos 40.
Este banco, juntamente com Averell Harriman, a familia Rockefeller, a Standard Oil, os DuPont's, os Morgan's e os Ford's criaram um fundo que permitiu o financiamento de Adolph Hitler e da sua subida ao poder a partir de 1923, o fundo permitia o financiamento das SS e Waffen SA através de um conjunto de empresas alemãs.
Prescott Bush, através das associações com os armadores Hamburg-Amerika, o banqueiro nazi Fritz Thyssen, a Standard Oil alemã, a German Steel Trust (criada por Clarence Dillon, fundador da Dillon Read), e I.G. Farben, utilizou o Union Bank Corporation para encaminhar grandes quantidades de dinheiro para o regime nazi ao mesmo tempo que geria os seus interesses na américa. Thyssen é reconhecido como sendo o banqueiro particular de Hitler e o accionista maioritário da Union Bank Corporation.

De acordo com Tarpley e Chaitkin, "Em Maio de 1933, logo após a consolidação do regime por Hitler foi concluido um acordo em Berlim para a coordenação de todo o comercio alemão com os Estados Unidos. A Harriman International liderou um conjunto de 150 empresas destinadas á gestão de todas as exportações da alemanha nazi para os USA". Os negócios conduzidos por Bush em 1923 continuaram mesmo depois do inicio da guerra e só foram alvo da atenção do governo em 1942:

- De acordo com o "Trading with the Enemy Act", o governo tomou conta da Union Banking Corporation, onde Bush era director, e "congelaram" toda as suas acções, totalmente detidas por membros da familia Thyssen.

- Em 28 de outubro o governo tomou conta de duas organizações nazis dirigidas pelo banco de Bush-Harriman: a "Holland-American Trading Corporation" e a "Steel Equipment Corporation".

- Em 17 de novembro a "Silesian-American Corporation", há muito gerida po Prescott Bush e pelo seu sogro George Herbert Walker, foram tomadas pelo governo.

Prescott Bush tornou-se um influente senador republicano pelo Connecticut e amigo do President Dwight Eisenhower. Os seus advogados eram John Foster e Allen Dulles, que mais tarde se tornou director da CIA durante a presidencia de Eisenhower.
Depois de chegar á presidencia em 1989 o filho de Precott (George Herbert Walker Bush) autorizou um conjunto de programas que não só permitiam o fornecimento de armas ao ditador Saddam Hussein, mas tambem incluiam o fornecimento do tecnologia para o desenvolvimento de armamento quimico e biológico. A "desculpa" oficial diz que, depois da guerra Irão-Iraque dos anos 80 o presidente procurava criar um novo balanço de poder, quando na realidade, através das suas relações com o Bank of Credit and Commerce International (BCCI) e o Banca Nazionale del Lavoro (BNL) estava deliberadamente a criar o exercito com que teria de lutar em 1991.

Segundo Ted Koppel, George Bush manobrou nos bastidores durantes os anos 80, criando grande parte do suporte financeiro e militar que transformou o Iraque numa potencia: "Muito do que Saddam recebeu não eram propriamente armas, mas o que se chama tecnologia de duplo uso: computadores sofisticados, veiculos blindados, helicopteros, produtos quimicos, que tanto podiam te usos civis como militares. Uma vasta rede de empresas alimentou a máquina de guerra Iraquiana até 1990. Uma dependencia em Atlanta do maior banco italiano (Banca Nazionale del Lavoro) encaminhou 5 mil milhões de dolares para o Iraque, supostamente para fins agricolas mas que foram usados para adquirir armamento a empresas americanas.
Em 1990 o procurador-geral Dick Thornburgh (nomeado por George Bush) impediu os investigadores de se deslocarem a Roma e Istanbul para verificar o caso. Um caso grave de como 3 nações democráticas (EUA, Inglaterra e Itália) financiavam secretamente a corrida ao armamento de um ditador.

De acordo com William Thomas, 1988 foram fornecidos ao Iraque 19 contentores com Anthrax pela empresa "American Type Culture Collection" localizada perto de Fort Detrick, onde se encontram os laboratórios de alta segurança para guerra bacteriologica do exercito americano.
Os avisos sobre o Carlyle Group, (11º fornecedor do exercito) e a familia Bush surgiram muito antes do ataque ao WTC. Pouco se sabe sobre o que realmente faz, chegando mesmo (4-10-2001) a retirar o seu website para manter um maior anonimato. Entre os seus directores incluem-se Frank Carlucci; James Baker, antigo secretário de estado de Bush e Richard Darman, antigo assistente de Ronald Reagan e "operacional" do Partido Republicano.
Segundo o Wall Street Journal, George Bush (pai) trata dos negócios da familia Bin Laden através do Carlyle Group, uma familia que, segundo alguns analistas, nunca quebrou realmente os laços com Osama Bin Laden.

O actual presidente esteve, ao que se sabe, igualmente ligado ao Carlyle Group e aos Bin Laden. Em 1976 criou uma empresa com 50,000 do banqueiro texano James R. Bath que era igualmente conselheiro financeiro para os Bin Laden. Bath está igualmente ligado á CIA e ao escandalo "Savings & Loan" que provocou a perda de 500 mil milhões de dolares dos contribuintes.
Velho amigo de George Bush, Bath está relacionado com operações financeiras no caso Irão-Contras e ao traficante de armas Adnan Khashoggi.
Outra peça da administração Bush é Richard Armitage, forçado a demitir-se do seu cargo de assistente do secretário da defesa no tempo de Reagan depois do escandalo com os operacionais da CIA Ed Wilson, Ted Shackley, Richard Secord e Tom Clines. O escandalo que envolveu Armitage está ligado ao trafego de droga e ao fornecimento ilegal de armas a paises considerados inimigos. em 1990 Armitage foi enviado para a russia por Bush (pai) para ajudar na "transição para o capitalismo", o trabalho de Armitage foi frequentemente ligado á explosão do trafego de droga pela Mafia Russa e ás suas ligações com a Albania e o seu aliado (Kosovo Liberation Army) que chegou a deter 70% do trafego de heroina na Europa. Armitage e Carlucci são ambos membros da administração do "Middle East Policy Council" e ligados ao Carlyle Group.

Dick Cheney esteve ligado a uma joint venture entre a familia Bin Laden e a empresa de construção H.C. Price para a construção de oleodutos. Esta empresa mudou depois de nome para Bredero Shaw, Inc. e é agora uma subsidiária da Halliburton Corporation, Dresser Industries. Cheney foi CEO da Halliburton até á altura das eleições.
Em 1990 Bush (filho) detinha uma posição na Caterair, pertença do Carlyle Group e manteve relações com a familia Bin Laden. Em 1995, quando era Governador do Texas, crê-se que esteja por trás do investimento de 10 milhões de dolares no Carlyle Group feito pela Universidade do Texas. Desconhece-se quanto deste dinheiro terá ido parar aos Bin Laden, mas parece haver um padrão na familia Bush em entregar dinheiro aqueles que mais tarde se revoltam contra a América.

A educação para lá do “desenvolvimento”

Rui Canário, no "Notícias da Amadora"

continuação (daqui)

Privilegiar o ter conduz a limitar de modo drástico o nosso campo de autonomia e de realização humana. A organização social subordinada à lógica de produção de mercadorias desvaloriza e elimina tudo o que, sendo do domínio da auto-suficiência, da solidariedade desinteressada e da expressão de si, põe em causa o poder do dinheiro e as várias formas de dominação que o acompanham. Poderá esta verificação inspirar-nos um outro vocabulário para pensar a educação?

A construção histórica das modernas sociedades industriais, ou seja, das sociedades capitalistas (sob a forma de mercado ou de capitalismo de Estado), tem como cerne a transformação de tudo em mercadorias (a começar pelo trabalho humano), visando a acumulação de capital, processo baseado na exploração do trabalho assalariado, com base na apropriação da mais valia. Os ideais do triunfo da Razão e do Progresso, que caracterizam o pensamento iluminista constituem os principais referentes de uma ideologia do desenvolvimento, fundada numa confiança cega nas potencialidades de a Ciência e a Técnica se traduzirem, através das suas aplicações, em níveis crescentes de produção de bens e, idealmente, de um contínuo acréscimo de bem estar para o conjunto da humanidade. Esta ideia de progresso linear, comum ao mundo da biologia e ao mundo da economia, é aceite de forma convergente por figuras tão distintas como Augusto Compte, Darwin e Marx. No elogio fúnebre que fez a Marx, o seu amigo Engels não encontrou melhor forma de o elogiar do que compará-lo a Darwin: um teria descoberto a lei do desenvolvimento da natureza (a evolução das espécies), o outro a lei do desenvolvimento da história humana.
No início dos anos 70, a coincidência do primeiro “choque petrolífero” com as crises de produtividade e de governabilidade das sociedades capitalistas (a ocidente e a leste) marcou o fim de um ciclo marcado pelas “ilusões do progresso” (como lhe chamou Raymond Aron) e pela tentativa de criação de “sociedades da abundância”, em que desapareceria o fosso que separava os países “desenvolvidos” dos países periféricos, marcados pelo “subdesenvolvimento”.

A falência dos Estados de Bem Estar é coincidente com um aumento constante da capacidade de produzir riqueza, com base em acréscimos de produtividade, resultantes de novas formas de organização do trabalho e de incorporação do conhecimento científico e técnico nos processos de produção. Os acréscimos de produtividade, com o enfraquecimento dos movimentos sociais e a mutação das organizações sindicais, traduziram-se num acréscimo da exploração do trabalho (os trabalhadores mais produtivos são, obviamente, os mais explorados), acompanhado de um aprofundamento das desigualdades

O desenvolvimento foi sujeito, enquanto ideologia, a uma forte erosão, como resultado de críticas que, embora divergentes nos seus fundamentos, convergiram nos seus efeitos pela razão simples de que passaram a existir evidências factuais que tornavam impossível a visão dominante até aos anos 70. O desenvolvimento como sistema conceptual e como modelo de referência para pensar e organizar a vida social não foi, no essencial, afectado. A sua sobrevivência foi acompanhada e favorecida por metamorfoses de carácter semântico que, adjectivando o conceito, alimentaram a ilusão de que “um outro” desenvolvimento é possível. Trata-se do mesmo tipo de mistificação que consiste em imaginar que “uma outra globalização” é possível sem que seja posto em causa de forma radical o sistema de exploração do trabalho humano.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Excomungados de Abril

Escrito em quinze capítulos, dedicados a outros tantos casos de empresários perseguidos ou expropriados durante o processo revolucionário, este pequeno livro escrito por dois jornalistas aborda retrospectivamente os anos 1974 e 1975, sustentando-se num amplo conjunto de depoimentos colhidos directa ou indirectamente junto de administradores e quadros das principais empresas portuguesas da época.

As aventuras dos Mello, dos Espírito Santo, de Champalimaud, Alfredo Alves, Abel Pinheiro ou José Miguel Júdice são descritas pelos próprios num tom pessoal, que ajuda a compor da revolução um quadro a duas cores, delineando com nitidez os contornos do confronto entre o poder económico e o poder político-militar, que se vê representado sobretudo na sua faceta repressiva. As prisões de empresários e administradores são amplamente dramatizadas, ao mesmo tempo que escapam ao confronto histórico as acusações de sabotagem económica e conspiração contra a democracia que as motivaram e sem as quais nunca poderiam ser compreendidas.
Palavras como turbilhão, irresponsabilidade, transe, demência, histeria, ou loucura diagnosticam psicanaliticamente os acontecimentos da revolução desvalorizando as suas motivações e protagonistas, representando os empresários como infelizes e inocentes vítimas de um processo irracional manipulado por agitadores calculistas. É sob o signo da estranheza que se aborda, por exemplo, a fiscalização da banca comercial pelos delegados do Banco de Portugal, a actuação de sindicatos e comissões de trabalhadores ou as nacionalizações decretadas pelo Conselho da Revolução, como se alguém tivesse interrompido e alterado subitamente as regras de um jogo em que os empresários portugueses se haviam tornado imbatíveis.
O que em muitos ensaios é lido tragicamente como uma hábil manobra no contexto da Guerra Fria surge aqui na forma de farsa – acentuando a ingenuidade de trabalhadores e militares perante os problemas económicos, sublinhando a imprescindibilidade da hierarquia e das competências dos quadros e administradores das empresas e assumindo o carácter natural dos principais axiomas da economia politica.
Pobre ao nível da interpretação do conjunto do processo revolucionário e da caracterização dos seus momentos e protagonistas, este trabalho de investigação sobretudo jornalística cumpre com mérito assinalável o propósito de representar a revolução de um ponto de vista absolutamente parcial, documentando as mentalidades e a consciência histórica de parte significativas das elites económicas portuguesas.
O que se vê assim analisado não é tanto a história do processo revolucionário – secundarizada por um conjunto de episódios pessoais mais ou menos caricatos e romanceados – mas a relação dos empresários com a memória desse período, numa subtil e trabalhosa operação que em larga medida apaga o que aconteceu, por exemplo, antes de 25 de Abril de 1974.
Nesse sentido, ao situar a revolução no plano dos seus supostos excessos e do seu efeito catastrófico sobre a economia do pais, procurando confundir as memórias dos empresários com a memoria do período propriamente dito, o livro de Filipe Fernandes e de Hermínio Santos revela a subtil ligação entre a revisão da historia portuguesa recente e a legitimação das elites económicas cujo património se recompôs sobretudo a partir do consulado cavaquista.
Como se apenas fosse possível justificar historicamente o seu poder restaurado fazendo da revolução um acidente de percurso, da ordem social que esta veio abalar o estado natural das coisas e da contra-revolução em que vivemos a restauração do que nunca deveria ter sido posto em causa.

Ricardo Noronha
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segunda-feira, outubro 02, 2006

Berlim - o Lustgarten, na Ilha dos Museus

 
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