“variações infímas podem alterar irreversivelmente o padrão dos acontecimentos” Uma simples mistificação dos economistas americanos, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias, cientificamente dada a conhecer á Humanidade por Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Venezuela, Referendo de 2 de Dezembro

Chávez: "se não aprovarem o SIM eu saio" - seria o cenário ideal para o Império - o chavismo sem Chávez e a degradação progressiva até ao desaparecimento de vez da "revolução bolivariana"
Se por outro lado, o povo o confirmar, deixaremos uma solução de consolidação das conquistas da revolução que será irreversivel

A Guerra do Petróleo

Sinclair, “um agitador comunista”

Em 1934 como o resto do país, às voltas com a Grande Depressão, a Califórnia estava, então, muito mal. Upton Sinclair (1878–1968) propôs que as fábricas inactivas fossem alugadas pelo Estado e, em seguida, entregues aos operários que nelas trabalhavam a fim de que estes possuíssem o que produziam ao invés de nada terem. O Estado precisa de dinheiro? Seria cobrado um imposto sobre os grandes estúdios. Eles reclamam? Também se exigiria deles que respeitassem o direito sindical e, se não o fizessem, o cinema seria coletivizado. A MGM e a Warner ameaçaram exilar-se na Flórida, caso Sinclair fosse eleito.
As grandes cervejarias, a ferrovia Southern Pacific, a Standard Oil e a PG&E (a empresa privada de eletricidade que esteve no centro dos apagões que atingiram a Califórnia em 2002), financiaram um programa de destruição do candidato democrata. Panfletos apresentavam-no sob as cores de um “demolidor de todas as igrejas e instituições cristãs, um agitador comunista”. A confederação patronal da Califórnia recomendou a seus membros que “distribuíssem pessoalmente (seria preferível que o próprio dono o fizesse) cartilhas anti-Sinclair a cada empregado, para fazê-lo refletir sobre os perigos que ameaçavam seu emprego no caso de eleição” (ler o artigo completo no Le Monde Diplomatique e a sua relação com a actualidade)

O caso da Standard Oil Co.

A Standard Oil Co., o maior truste petrolífero dos Estados Unidos, fora fundada por John Davison Rockefeller e mais quatro sócios em 1870. Rockefeller era um gênio do empreendimento, dotado de uma enorme capacidade de previsão sobre os rumos da economia americana. Nascido em Richford nas proximidades de Nova Iorque em 1839, era já aos trinta anos um dos homens mais ricos da América (calcula-se que possuía 1 bilhão de dólares daquela época). Depois da crise de 1872 ele, cansado da instabilidade do mercado do óleo, decidiu-se por fim àquela anarquia. Declarou então a Oil War, a Guerra do Petróleo, uma vasta operação empresarial para adonar-se de todas as etapas possíveis do negócio do óleo.

Na Zona Petrolífera americana de então, basicamente concentrada nos estados de Ohio, Pensilvânia e Indiana, existiam uns 16 mil produtores, cada um tratando da sua própria extração e comercialização. Entre eles e as refinarias, que produziam o valioso querosene (naquela época a gasolina, por vezes, era jogada fora porque ainda não havia indústria de automóvel), haviam as estradas de ferro. Rockefeller aproximou-se delas para controlar o mercado. Ao mesmo tempo em que, como um enorme polvo lançado seus tentáculos para todos os lados, secretamente enviava seus emissários para comprar refinarias por todo o país, ele e seu sócio Henry Flager, articularam-se com as ferrovias para obter vantagens. O dono de refinaria que se negasse a vender-lhe a empresa, amargava o pão que o diabo amassou. Rockefeller fazia-o "suar a gota gorda"(dumping, ameaças, sumiço dos barris, misteriosa suspensão de compras, etc..), até que o pobre homem capitulasse.

Cerca de 1890 o monopólio de Rockfeller concentrava 30 corporações e quase a totalidade do refino do óleo do país inteiro. Rockefeller saiu vitorioso da Guerra do Petróleo, mas seu nome ficou marcado junto a opinião pública como um dos robber barons, os barões ladrões[ assim chamados um grupo de grandes capitalistas da América, devido suas práticas nada éticas]. A Standard Oil Co., por sua vez, tornou-se a empresa americana mais odiada no mundo inteiro. Apontaram-na como o verdadeiro símbolo do Capitalismo Selvagem e, devido suas inescrupulosas incursões internacionais, exemplo vivo da arrogância imperialista norte-americana.
(ler o artigo completo e o enquadramento histórico aqui)

quinta-feira, novembro 22, 2007

Finlandia

Depois de na semana passada ouvirmos o maestro finlandês Esa-Pekka Salonen no Circulo das Grandes Orquestras Mundiais, no Coliseu, a nossa admiração por aquele pais só podia ter melhorado




O depurado e austero interior da Catedral. Curioso que os únicos elementos decorativos, por contraste com a parafernália de santinhos da ICAR, sejam: 1 tela com Jesus Cristo crucificado escoltado por dois "gabriéis" em talha dourada, uma estátua de Martinho Lutero e outra do Arquitecto que concebeu o edificio, Carl Engel.

Vista aérea da cidade de Helsinquia

e o maestro que é monumento nacional: Esa-Pekka Salonen. Aqui a dirigir a parte final da sinfonia nº 5 de outro monumento nacional: o compositor Jean Sibelius (1865-1957),

Contra os limites de Heisenberg – Diálogos sobre Física Quântica: dos Paradoxos à Não-Linearidade.

Entrevista com o físico José R. Croca, publicada no Jornal de Letras, edição de 21 de Novembro.

Desde 1927 que este princípio orienta as investigações dos cientistas de todo o mundo, sendo um dos pilares da Física actual. Consiste num enunciado da mecânica quântica que impõe restrições à precisão com que se podem efectuar medidas simultâneas de uma classe de pares observáveis. Obra de referência:

Towards a Nonlinear Quantum Physics” (Ed. World Scientific Publishing, 2003)

JL: O que significa ter refutado o Principio da Incerteza de Heinsenberg?
José Croca (JC) – As relações de Heinsenberg impõem um limite à nossa capacidade de conhecer. De acordo com estas relações, a partir de um certo limite, definido precisamente por elas, não podemos colocar questões, pois este constitui uma barreira intransponível. Essas relações, descobertas por Heinsenberg em 1927, imperaram até há pouco tempo como omnipresentes. Desmontei teoricamente essas relações e depois mostrei que, na realidade, a natureza é muito mais complexa. As relações de Heinsenberg são boas e válidas a uma dada escala de descrição da realidade, mas não limitam realmente a possibilidade de conhecer. A imaginação humana vai sempre mais longe que qualquer barreira que possamos tentar construir. As relações de Heinsenberg tentaram impor essas balizas. E o que mostrei é que podemos ir além delas.

JL: Mas que balizas eram essas?
JC – Imagine um automóvel em movimento. Quer saber onde ele está. De acordo com Heinsenberg, posso saber a posição do automóvel. Mas se quiser conhecer a posição em rigor absoluto não poderei saber a velocidade a que circula. E vice-versa. As relações de Heinsenberg dizem-nos que é impossivel prever o valor destas duas grandezas conjugadas.

JL: Mas refutou essa teoria. O que propõe?
JC – Que é possivel ir muito mais além das relações de Heinsenberg. Dentro dos limites impostos pelas realações de Heinsenberg não é possivel prever com rigor a posição de uma partícula e a sua velocidade. Quanto melhor se conhecer a posição tanto pior se pode conhecer a velocidade. Mas eu mostrei que é possivel, não só teórica, como também experimentalmente, ir além desses limites.

JL: E como é que isso se aplica na prática?
JC – Admitamos que num DVD, de acordo com o limite de Heinsenberg – uma consequência directa da ontologia de Fourier – podemos pôr só duas horas de gravação. Rompendo com esta ontologia e usando a análise por onduletas, em vez de duas podemos pôr oito horas, ou mais.

JL: E no plano teórico?
JC – As relações de Heinsenberg são a expressão matemática do Principio de Complementaridade de Niels Bhor, que afirma a existência de uma dualidade intrínseca na natureza. Tal como acontece numa moeda: ou vejo a cara ou a coroa. Não posso ver as duas faces simultaneamente. Mas podemos, com um espelho. Por outro lado a mecânica quântica habitual nega a existência de uma realidade objectiva independente do observador. Em última instância, nesta teoria, é a consciência do observador que cria a realidade. O que estamos a fazer é criar uma nova mecânica quântica causal e não-linear mais geral em que a realidade não seja criada pelo observador. O objectivo é desmistificar a mecânica quântica.

JL: Quais as consequências, no plano do conhecimento, destes avanços?
JC – Romper com a hipótese – horrenda – de que há barreiras intransponíveis para o conhecimento. As relações de Heisenberg constituem uma prisão para o espirito humano. Mostrei que tal barreira não existe. Ou que podemos ir muito para além dela. E que é possivel explicar fenómenos tidos como misteriosos e inexplicáveis em termos causais. Não há fenómenos misteriosos em Ciência. Há fenómenos muito complexos. Se lhe perguntar porque é que chove, não vai dizer que foram os deuses que estavam mal dispostos, como se pensava antes. Chove porque o Sol aqueceu mais determinada região da Terra, dando origem à precipitação da água. A mecânica quântica borheana induziu, de certa forma, a ideia de que os fenómenos acontecem sem que para isso exista uma explicação causal. O que se mostra é que os fenómenos apresentados como incompreensiveis são perfeitamente explicados em termos causais e racionais dentro do quadro da nova mecânica quântica não-linear. Do ponto de vista do conhecimento humano isto é importantíssimo. Pelo menos para aqueles que acreditam que o mundo é compreensível.

El Rey Franquista

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para ler a entrevista seria necessário que o DN a tivesse colocado na edição online. Não tem link, uma politica que é seguida deliberadamente para evitar que as opiniões de esquerda sejam difundidas. A opinião de Garrido Peña está aqui:

"El Rey de España no está para mandar callar, de forma harto grosera, a ningún presidente de otros país democrático. El Rey de España no está para, en gesto de descortesía inusual, abandonar la sala, cuando habla otro presidente también electo. Ni tampoco está para avalar las conductas golpistas de un ex-presidente conservador español, ni para hacer de abogado de las multinacionales ¿españolas?, que están saqueando ecológicamente Latinoamérica.
Por eso, el Rey se extralimitó en sus funciones constitucionales, en la pasada Cumbre Iberoamericana celebrada en Chile. Un Rey, dicen los que creen en eso, que si es algo es porque no es casi nada: no opina, no habla, no actúa, inaugura, lee discursos que no escribe y da mensajes de Navidad. Porque si un rey opina, habla, actúa, entonces ya no es un monarca parlamentario, sino un autócrata puesto que no ha sido elegido por nadie, ni responde ante nadie. (ler o artigo completo aqui)

e nós? o que mais parecido temos com um Rei é,,, Mário Soares:

an al Qaeda rolodex

no Iraque ocupado, informar é igual a terrorismo

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publicado no DN 21/11 (sem link)

'Al Qaeda rolodex' found in Iraq

As many as 60 percent of the foreign fighters who entered Iraq in the past year have come from Saudi Arabia and Libya, according to documents discovered in a raid in September near the Syrian border, a senior U.S. military official in Baghdad confirmed to CNN Thursday.
The documents confiscated in that raid listed the identities of more than 700 foreign fighters in Iraq, whom the United States believes entered that country since August 2006. The official describes the documents as "an al Qaeda rolodex."
http://edition.cnn.com/2007/

quarta-feira, novembro 21, 2007

Revolta na América Latina

























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terça-feira, novembro 20, 2007

Rui Tavares:

“Durão n“A medida de todas as coisas












“O memorando de Downing Street, publicado pelo Times em 2005, demonstra que quase um ano antes da guerra George W. Bush já tinha decidido invadir o Iraque. As informações e os factos iriam ser “amanhados” (fixed around no original) para justificar a decisão. Os seus aliados britânicos sabiam. As actas da reunião de Crawford entre Bush e Aznar, que o El País publicou recentemente, demonstram que um mês antes da guerra Bush recusara a ideia de Saddam abdicar e exilar-se no Egipto.
Aznar sabia. (e orgulhosamente tem propagandeado que a decisão colocou a Espanha na primeira linha das potências mundiais)
segundo Barroso: “Portugal não tem que estar arrependido do apoio à invasão do Iraque. Porquê? Porque “não perdeu nada com isso”. Não perdeu o quê: honestidade, credibilidade, autoridade moral? Nada de tais coisas; foi a nossa “imagem” que não sofreu. E como sabemos que a nossa “imagem” não sofreu? Porque a carreira de Durão o “demonstra”. Esta é a mais pura inversão moral (…) os portugueses não devem preocupar-se com isso, porque Durão Barroso veio depois a ser nomeado para um cargo importante. Mais alguma coisa interessa?”

Ao centrar o mal do sistema numa pessoa, (ou no grupo restrito Bush, Blair, Aznar, Barroso), funcionamento como o opositor que é atraído pelo objecto que importa, Rui Tavares, a nova coqueluche intelectual da esquerda consentida, dá plena razão a Ezra Pound quando afirmou que se “pode reconhecer um mau crítico porque ele começa por falar do poeta e não do poema”. Teria Rui Tavares a mesma visibilidade mediática se, com o seu talento, insistisse em criticar e demolir o sistema em vez de se limitar a demolir os agentes temporários do poder?

É importante que se saiba que, mudando Bush por Hillary (ou por quem for), o sistema (do novo) capitalismo manterá intacto todo o potencial de devastação social porquanto, embora mudando de discurso, ou até de paradigma, a exploração imperialista manter-se-á. Fundada na mesma exploração da força de trabalho e pelo mesmo consumo alienante fomentado pelas classes dominantes.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Northern Rocks

Morgan Stanley

quinta-feira, novembro 15, 2007

VPV

"Como antigamente o ouro e a prata, o corpo e a saúde são hoje um sinal e um simbolo de superioridade"

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PSL lider para lamentar

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Critica de televisão, por Eduardo Cintra Torres

Deve ser o climax da evaporação politica um gajo ser demolido por um tipo como o José Manuel Fernandes. Pois foi esse cúmulo da degradação que aconteceu um destes dias quando Santana foi o objecto abjecto do editorial do Público. De dois polos negativos resulta necessáriamente o vazio - eis algumas rimas soltas:
"o fiasco da prestação como lider"
"depois de andar por aí soçobra à primeira oportunidade e sem sequer perceber porquê"
"quem se recorda das prestações televisivas de PSL, em especial quando se estreou contra António Vitorino, recordar-se-á que muito raramente, ou quase nunca, era o antigo primeiro ministro a iniciar o debate. Como isso me intrigava, tratei de confirmar o que a intuição me dava como explicação: a palavra era dada ao socialista porque este tinha, por regra, algo a dizer; Santana ouvia, tomava umas notas, afinava o radar e concordava ou discordava recorrendo a meia dúzia de banalidades ou números de circo. De substancial quase nada se retirava do que dizia" (depois quando o interlocutor passou a ser Sócrates a coisa melhorou, digo eu, na medida em que o tom geral se nivelou por baixo)
"o talento natural de Santana disfarçou durante muito tempo o seu amadorismo"
"mas, sobretudo no tempo da politica-espectáculo (...) revelou-se um amador amargo e envelhecido"

relacionado:
A Inveja e a Glória - Clara Ferreira Alves e as memórias duma "santanete" frustada

o golpe da Tanga

em 2001 o défice era um pouco menos de 4 por cento quando Barroso tomou conta do aparelho de Estado. No final de mandato do clone Santana o governador do Banco de Portugal, em sintonia com o "novo" (des)governo de Sócrates reavaliou o défice para 6,7%. Dois milhões de pobres depois, o défice parece que se vai situar um pouco acima dos 3%

é escusado perguntar quem lucrou com a tanga - mas fica a pergunta: os Bancos e as empresas multinacionais, ou a generalidade do zé povinho português entretanto reciclado para o sistema yankee de precariato no trabalho?

quarta-feira, novembro 14, 2007

Carta aos Republicanos

por João Medina* (publicada no JL)

“Perdoem-me, meus caros compatriotas de barrete frígio, que vos venha dizer com franqueza e sem quaisquer intuitos de desafio ou provocação, a dois anos do centenário da data de implantação da I República, que não sou, de modo especial, republicano ou monárquico, embora, como seria de esperar, embirre mais com o segundo do que com o primeiro, pois até vejo com desgosto (e certo desânimo de profissional do ensino universitário e da escrita da História) crescerem por aí aplausos suspeitos à vaga neoconservadora de rapaziada de Clio que porfia em branquear D. Carlos Simão de Sabóia Orleães & Bragança I, fazendo deste sibarita obeso e liberticida um “mártir da pátria” com direito a placa comemorativa do seu trespasse no sítio onde o duo trágico de matadores o abateu, homenagem que nem a monarquia de D. Manuel II, nem a Ditadura dos militares vindos de Braga, nem o glacial Minotauro chamado Salazar e nem o não menos taciturno dr. Caetano foram capazes de mandar pôr numa esquina da nossa capital.
O que, essencialmente, vos queria dizer, estimados republicanos, em termos simples, cordatos e benévolos de quem tem escrito e leccionado anos a fio sobre a Vida & Morte do republicanismo luso, é que não creio que valha a pena preparar, oficialmente, ou mesmo em meios académicos, a celebração dum mau defunto que foi esse regime de década e meia de vigência atarantada, e que, bem feitas as contas, teve nada menos do que 47 governos que a desgovernaram por trancos e barrancos, durante menos de 16 anos de atribuladissima e caótica duração, com muitas bernardas castrenses de permeio, sedições várias, tumultos constantes e quase sempre mais ou menos sangrentos, de atropelos à legalidade e ditaduras disfarçadas ou às escâncaras, sem falar da Ditadura das Urnas, com o “partido democrático” do dr. Afonso Costa (aquele homem de Direito que foi uma vez ao Porto, em 1902, com uma soqueira, para agredir à traição o Sampaio Bruno), mais uma participação em tudo funesta e catastrófica nos conflitos europeu e africano, e, por fim, uma degola que nos privou da Liberdade, com certa lógica fatal depois de tanta bagunça, desassossego, insensatez politica e falta de implementação mínima dum regime sério de Cidadania, Educação generalizada ou Progresso material, porquanto nem se educou o povo, nem se fez de cada português um cidadão livre, nem se melhorou a vida dos portugueses.

Foi esta situação anómala e em tudo desconforme com os santos ideias de Igualdade, Liberdade e Fraternidade apregoados pela Propaganda e prometidos nos comícios ao ar livre ao bom povo, que durou apenas década e meia, multiplicando tanta decepção, tanto erro, suscitando tantos dissídios e praticando as mais agrestes intolerâncias, expulsando do regime recém-criado os sacerdotes, a maioria dos militares, as mulheres e os operários, descontentando ainda a esmagadora base da média burguesia urbana que confiara no novo regime como radical despertar do país e resgate da grei embrutecida por séculos de despotismo, desprezo e incúria dos seus governantes.
Pagaram-se estes pasmosos erros, tão crassos e repetidos, duma estupidez política tão criminosa? Sim, pagaram-se com o confisco das Liberdades basilares por quase meio século e com a pavorosa atrofia geral do país, no seu corpo e na sua alma. Por isso não hesito em considerar que a nossa desgraçada I República foi um parêntese funesto, um mau presságio do que viria depois, em larga medida como consequência fatal de erros colossais que ela acumulou e agravou, com gente desastrada ou mesmo catastrófica, que levara o país para o atoleiro de 1926, gente mediocre e incapaz, cegos condutores de cegos.
Em 2010 vamos, em suma, celebrar o quê? O começo dum erro imenso e desastroso para o país que somos? A nova versão da comédia offenbaquiana da monarquia constitucional, agora em versão sanguinolenta? O desvio perverso da ideia libertadora que ao republicanismo europeu, desde 1789, encerrava? Não seria melhor, em vez de celebrarmos o 5 de Outubro, rezarmos-lhe um responso (laico) pela pobre alma penada que ele foi? Antes isso do que comemorar uma República sem republicanos, com a nossa é.

* João Medina, professor catedrático da Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa, historiador, ensaísta e ficcionista, dirigiu a História de Portugal e dirige a Revista Clio

sábado, novembro 10, 2007

Espanha, o Reino dos Bourbons

El 23 de julio de 1969, el Príncipe Juan Carlos de Borbón juró lealtad al Jefe del Estado y fidelidad a los Principios del Movimiento Nacional y demás Leyes Fundamentales do Franquismo.

História da Casa dos Bourbons e ligações às Casas Reais Europeias

quarta-feira, novembro 07, 2007

Blindness

se o argumento é sobre uma epidemia de cegueira, todas as cenas estão cheias de cegos.
(excerto em brasileiro do blogue de Fernando Meirelles)

“Falo em figurantes pois neste filme eles não são apenas gente que cruza o quadro imitando o movimento das ruas. Aqui estão todos cegos. Todo mundo tem que atuar e esse pequeno detalhe foi o motivo que quase me tirou deste filme quando pensei em dirigi-lo. Cada vez que imaginava uma cidade ocupada só por cegos a imagem que me vinha era a de uma população caminhando pelas ruas com os braços estendidos como num filme B, ou Z, de Zumbi. Socorro, pensava. Mas sei que cegos não andam assim, então a primeira providência foi chamar o Chris Duvenport, preparador de actores, e convidá-lo para me ajudar a evitar que este “Ensaio Sobre a Cegueira” virasse um remake do Regresso dos Mortos Vivos.
De caras, o Chris aceitou o convite. Chamou a sua assistente, colocou uma venda preta nos olhos e foi andar pelo Ibirapuera. Se animou com a sensação e resolveu correr, até encontrar uma árvore. A experiência é uma forma de aprendizado e ele aprendeu com a cabeçada ou com o galo que havia outro caminho para fazer este trabalho: começou então com um grupo bem pequeno de atores numa sala. Todos vendados, foram convidados a explorar o local por horas a fio. No começo andavam animados, usavam as mãos, encontravam os obstáculos que eram colocados no caminho, disputavam um biscoito. Mas depois veio o tédio, algumas sensações estranhas, depressão às vezes, paz para alguns. Essas oficinas foram evoluindo. Aos poucos, o Chris foi aumentando o número de participantes e passou a levá-los para espaços maiores ou para passeios ao ar livre.
Em Maio, ele organizou uma destas oficinas para a equipe do filme. Aprendi muito sobre som nas horas em que fiquei cego e decidi que vamos ser muito experimentais em nossa mixagem. Percebi também como a percepção do espaço é fragmentada e precária quando se usa apenas as mãos para entendê-lo, então decidi simplesmente abolir a geografia neste filme. Quem tentar entender qual corredor leva a qual parte do asilo vai perder seu tempo. Rodamos cada cena como nos dava na telha, sem nos preocupar se o ator deveria sair pela direita ou pela esquerda, na esperança de dar ao espectador um pouco da desorientação que a experiência da oficina me trouxe. Reflexos o tempo todo, imagens abstratas, mal enquadradas, desfocadas ou superexpostas completarão a receita da desconstrução do espaço (ou da visão?) neste filme. Tomara que funcione, agora é tarde para recuar”.

[Fernando Meirelles]

 
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